sábado, 9 de junho de 2012

Matança do porco em Dona Augusta

Entrada de Dona Augusta. Normalmente tem roupa
 a secar em toda a extensão do caminho até lá abaixo.
Depois de Ponta Baleia subimos até Dona Augusta. Já os conhecemos a todos e a mulher do Domingo, a Rola, gritou logo pelo meu nome mal nos viu.
 “Pensava que já tinhas ido!” Somos sempre muito bem recebidos e desta vez não foi excepção. Depois de tirar as tralhas do carro e de separar as folhas dos inquéritos partimos os três à caça.
 Chamavam Bondo à primeira senhora que entrevistei e ela disse-me que na semana passada só tinha comido coelho. Se tivesse sido o “nosso” coelho então era a primeira vez que eu ouvia a palavra num inquérito mas não, quando ela pediu à vizinha para trazer um coelho, ela veio-me com o peixe com aspecto mais primitivo que eu já vi nos últimos tempos (sem contar o con-con). Para perceberem como era a boca daquilo imaginem um bico de um papagaio. Agora imaginem outro, quatro pontas portanto, e “ponham-nas” a fecharem-se no mesmo ponto. Ah e metam isso numa cabeça grande e com grandes olhos predatórios e têm um “coelho”. A conversa sobre este peixe continuou até ela me dizer que quem comeu o bicho foi parar ao hospital com espasmos e companhia e quando as galinhas comeram as tripas dele morreram todas.
 “Então porque é que o comem?”
 “Porque não tinha mais nada.”
 “E porque é que deram as tripas às galinhas?”
 “Não démos, mandámos ao chão e elas foram lá picar.” Disse uma senhora desgostosa por ter ficado sem quatro galinhas.
 A certa altura começo a notar alguma agitação. À minha frente estava um porco amarrado pelas patas e ele parecia não perceber Português porque se percebesse não devia estar tão tranquilo.
 “Como mato ele?” Dizia um homem posicionado atrás.
 “Usa a madeira aí.” Gritou a senhora do coelho.
 Viro-me para o homem sentado ao meu lado e ele dá uma palmada na própria testa e sorri. “É pra bater assim aqui.”
 Bem, antes que pudesse meter a capa à frente dos olhos e esconder-me que nem uma menina já o porco tinha levado com tronco gigante na cabeça umas quantas vezes até ficar de lado a respirar sangue cá para fora. Os guinchos do bicho eram mesmo muito maus e ao vê-lo ali estendido parecia que me tinham batido também no mesmo sítio...
 “E agora?” Perguntou o homem do tronco.
 “Tem que usar faca!” A mulher passou-lhe uma faca de cozinha torta e pouco afiada. “Dá-lhe no pescoço, vá.”
 Basicamente foi como ver um homicídio a sangue frio feito por um maluco qualquer. Não foi bonito e aposto que aquele porco, quando acordou naquela bela manhã solarenga, pronto para ir enfiar o focinho no chão atrás dos seus restinhos, nunca imaginou que seria a ultima vez. Tenho a certeza que se tivesse que assistir a uma cena daquelas sempre que fosse comer porco nunca mais regressava à carne.

 Mais uma daquelas relíquias.
 Hoje em dia a única forma de ter electricidade na comunidade é ligando um gerador super barulhento mas os candeeiros que estão à entrada devem ter visto dias muito diferentes. Como esta comunidade devia ser há uns bons anos atrás e como ela está agora.

A bela da fonte abandonada
  A manhã seguinte foi estranha. Como aqueles dias em que se abre a janela (ou se espreita para fora do amoque) e se encontra um céu tão cinzento que só dá vontade de ficar na cama à espera que passe. O vento soprava, lá no alto, as folhas estavam agitadas. Estava fresco, as cores escondidas, os pássaros pouco ou nada cantavam, parecia mesmo que ia chover mas no final o vento continuou até soprar todas as minhas incertezas e o sol brilhou novamente.


2 comentários:

  1. Ouvi dizer q comer carne por aí é para se ir para ao hospital =P
    E com tanta maquina nem tiraste uma foto a tal espécime??

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  2. Que exagero! :P Não é nada disso! (apesar de nunca ter comigo carne nas comunidades, só peixe e búzio) Mas na cidade, desde que o sítio pareça minimamente aceitável, é perfeitamente seguro até com as saladas e isso.

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