Os tempos passados nas comunidades foram das coisas que mais me marcaram em São Tomé por isso agora que a minha estadia se aproxima do final, tenho tentado gravar parte desse sentimento sob a forma de fotografias de grupo.
Elas começam sempre da mesma forma, com uma decisão louca mas simples de visitar todas as casas e reunir toda a gente num único local. “Vamos tirar uma fotografia todos juntos, quer vir?”
Às vezes respondem-me apenas com um sorriso envergonhado, outras vezes dizem simplesmente que não querem, não sabem, desculpam-se como podem… Há também os que dizem que são feios, estão sujos, que estão ocupados ou que estão já a sair, e claro está, há os que largam imediatamente o que estão a fazer e começam eles próprios a reunir pessoal.
Tiro a máquina da mochila e ponho-a algures apontada para um fundo bonito que as crianças começam imediatamente a tapar. Elas são sempre as primeiras. As pessoas vão chegando, algumas ajeitam-se, usam lenços, alisam a roupa, outras vão tal e qual como as apanhei, com a roupa da luta, como às vezes dizem.
“Têm que se apertar mais se não não vai dar...” Grito eu, apontando para uns quantos do lado esquerdo.
Num instante já estão todos reunidos, riem-se e comentam. O nervosismo é palpável no ar. Mexo na máquina, ligo o temporizador para os 10 segundos, foco uma última vez, só para ter a certeza, e explico o que se vai passar como quem está prestes a fazer um truque de magia ou lançar um foguete. “Vou carregar no botão e só passado um bocado é que a máquina tira, ok? Eu vou meter-me aí ao teu lado, ok?” Alguns acenam, confusos.
Carrego no botão, vejo aquilo a piscar, corro para um sítio qualquer, geralmente agachado na fila da frente, e sorrio. A luzinha a piscar, a espera interminável, tento contar uns segundos mas perco-me, ainda há pessoas a falar, até que se vê um flash mudo e eu salto do meu lugar sem aviso enquanto grito: “Esperem! Ninguém se mexe! Deixem ver se ficou bem!” Pego na máquina à procura de caras desfocadas. Saiu bem. Pronto, dou o sinal de Ok para toda a gente que está ali parada a olhar-me com antecipação.
Esta é de longe a melhor parte de tirar uma fotografia de grupo. Quando toda aquela montanha de gente corre na minha direcção e me atropela e envolve completamente. Todos os miúdos a rir e a puxar, “a Edna já viu duas vezes”; os mais velhos a comentarem a cara deste ou daquele, tudo quer ver de perto, pegar na câmara (que eu não largo nem por nada), ninguém consegue ser indiferente.
É esta parte da experiência que me convence que tirar a fotografia é muito mais do que premir um botão para congelar um instante no tempo. A fotografia aproxima as pessoas.