segunda-feira, 28 de maio de 2012

Santa Teresa


Neves lá ao fundo. É sempre a subir até Santa Teresa.
 Santa Teresa é uma comunidade que fica ao lado de Neves (a uns 15min a Norte da capital) só que para lá chegar há duas opções. Subir de carro por um caminho verdadeiramente escorregadio, daqueles com lama alisada pela chuva e pintada de verde pelas algas. Aquela lama que adora atirar carros pelo penhasco a baixo, basicamente. A vista por este caminho é a melhor, mas também existe uma segunda opção que é ir a pé. 

Canoa a ser talhada a partir de um tronco de Ocá.
 O caminho ao início é bem bonito e até pode ser que encontrem coisas invulgares só que a certa altura a inclinação dispara e o suor começa a escorrer. Como uma cascata escorre. Quem escolher este caminho pode muito bem preparar-se que no final estará tão seco como se tivesse caído numa piscina, mas tudo valerá a pena porque lá em cima espera-vos esta bela comunidade.  



Vista do pico vulcânico que sombreia a comunidade ao pôr do Sol.
 Eu sei que já me estou a tornar repetitivo mas Santa Teresa está cheia de gente simpática a começar logo pelo presidente da associação que é das pessoas mais preocupadas e atenciosas que se podem encontrar por aqui. Ele simplesmente não descansa enquanto nós não tivermos o nosso trabalho terminado.
 Como em todas as comunidades (e provavelmente tudo nesta vida) nós recebemos o que damos e quanto mais sorrio para estas pessoas e brinco com elas, mais elas se abrem comigo e me aceitam - e os miúdos mexem no meu cabelo. Acho que esta proximidade resultou numa das minhas maiores vitórias até hoje: Consegui que uma senhora jogasse xadrez. Na verdade a dificuldade não é ensinar, ela aprendeu tão ou mais depressa que qualquer homem. O verdadeiro desafio é fazê-la sentir-se à vontade o tempo suficiente para explicar as regras do jogo e depois convencê-la a aplicar o que aprendeu em frente a toda a gente. Ah granda Mana, muitos parabéns!

 Da segunda vez que vim a esta comunidade estávamos nós em Fevereiro e eu reuni o pessoal todo e fiz uma curta apresentação onde um dos temas era a origem vulcânica das ilhas de São Tomé e Príncipe. A certa altura na explicação eu estou a desenhar  uns bonecos num flip-chart com a intenção de explicar o que é um vulcão mas como vi que a mensagem não estava a chegar, parei, virei-me para trás, e apontei para isto: 
Vulcão bebé que está ao fundo de Santa Teresa.
  Amanhã espera-me mais uma madrugada passada sobretudo encostado numa das colunas do Aeroporto enquanto corro o seguinte programa básico no meu cérebro:

1- É branco? S/N
2- S: Já o vi antes? S/N
3- S: É o Fábio? S/N
4- S: Grunhe um chamamento primitivo que te destaque do meio da multidão.

 É por isto que hoje não fiquei a dormir na comunidade e desci o percurso todo acompanhado destes três bravos. Se a subida é íngreme, a descida não poderia ser muito diferente e enquanto eu ia rebolando encosta a baixo umas quantas vezes, estes três tipos fizeram o percurso todo num passo que muitos considerariam de corrida e ainda por cima com as sacas de carvão na cabeça!


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