Vista do Cão Grande a partir da estrada |
Hoje era para ser um dia especial - e acabou por ser, mas pelas razões erradas... Estava programada uma visita à antiga Emolve (actual Agripalma) com o intuito de observar pombos (rola, céssia e pombo do mato) e assim perceber de que árvores eles se alimentam mais frequentemente.
Passar o portão correu bem. Já ouvi histórias de que havia antigamente um tipo de selecção com contornos racistas feito logo à entrada: "branco não entra". Felizmente que não foi esse o caso e conseguimos entrar todos sem problemas.
O carro ficou estacionado na comunidade e lá fomos nós em direcção ao sítio onde tinha sido marcado um transecto há não mais que três anos atrás. O transecto havia sido escolhido por ser um bom local para observar pombos, e como este é um conhecido sítio para ver a rara, endémica e ameaçada Íbis (ou Galinhola - Bostrychia bocagei) eu estava com as expectativas bem altas.
Bem, quando o transecto começou, numa zona que anteriormente seria floresta cerrada, agora era um descampado enlameado. Já não haviam árvores nenhumas! Foram todas cortadas indiscriminadamente (com a excepção de um ou outro Viru vermelho).
Sem querer desistir do objectivo que nos fez conduzir todo o caminho desde a cidade, continuámos pelo transecto, saltámos o rio, e descobrimos que do outro lado o cenário repetia-se. Com a excepção de um ou outro Viru-vermelho que permanecia comicamente sozinho no meio de toda aquela destruição, não havia uma única árvore de pé.
Ao longe uma escavadora fazia o seu trabalho implacavelmente enquanto toda a paisagem parecia chorar a destruição causada. |
A linha verde assinala o limite com o Parque Natural Obô. Toda a área vermelha é antiga plantação de palmeira ou floresta que eu já vi que foi cortada. Como podem ver, há muita floresta que dantes estava de pé juntamente com as palmeiras da Emolve e agora perdeu-se... |
O governo de São Tomé e Príncipe assinou um contrato com a Agripalma, cedendo-lhes 5000 ha, ou seja, terra suficiente para que o negócio de venda de óleo de palma se torne rentável. O problema é que a decisão foi inegavelmente mal pensada e agora parece que não há maneira de voltar atrás... Toda a zona corresponde ao local onde se pode encontrar o Ibis, uma das três espécies de aves Criticamente Ameaçadas de São Tomé, e provavelmente a que corre maior perigo de desaparecer para sempre devido à destruição de habitat e caça descontrolada. E como se o Ibis e as outras aves endémicas presentes na zona não fossem suficientes para parar o abate descontrolado de árvores, é aqui que se pode observar o fantástico Pico do Cão Grande que, só por si, poderia e devia ser explorado como um foco de atracção turística importantíssimo para São Tomé e Príncipe! Mas não, em vez disso o governo decidiu que seria mais proveitoso para o país trocar toda a sua biodiversidade única no mundo por umas quantas toneladas de óleo...!
Pico do Cão Grande... o que és e o que podias ser! |
Ao caminhar de volta para o carro só conseguia olhar para o Pico do Cão Grande e imaginar. Tanto potencial... e todo mandado a baixo...
Esta mancha já me tinha chamado a atenção no Google Earth, onde as imagens são de 2005. Então é para isto......
ResponderEliminarParabéns pelo blog, que só agora tive a sorte de encontrar!
ResponderEliminarEstaremos atentos/as.
http://globalvoicesonline.org/2012/08/01/sao-tome-and-principe-deforestation-biodiversity-palm-oil/
Olá Sara, muito obrigado!
EliminarSem querer soar muito idiota, achei fantástico teres traduzido aquilo que escrevi para inglês! Ficou logo com um tom mais profissional!
E agora num tom mais sério: Sim, aquilo está muito feio e houve já uma reunião em Lisboa onde foram discutidos alguns planos de acção para compreender melhor o que estamos a perder naquela zona.
E muito obrigado por me dares a conhecer essa página da globalvoice!
Olá de novo João :)
EliminarEStou a preparar algo mais longo sobre este teu post (e o outro da destruição do património). Queria pedir-te permissão para usar as fotos no Global Voices, com os respectivos créditos e links para a fonte original.
O Global Voices é uma organização sem fins luvcrativos que pretende dar mais visibilidade a histórias contadas por cidadãos através da net e que não têm visibilidade nos grandes meios de comunicaçao.
Nao encontrei o teu contacto de email, se puderes escreve me para saritamoreira at gmail.
Obrigada!
Sara
olá João Pedro,
ResponderEliminargostava imenso que me enviasses o teu contacto eletrónico,
preciso de te falar urgentemente a ver se se consegue travar esse cataclismo que estão a fazer nas ilhas mais belas do mundo
olindabeja@hotmail.com
Que tristeza !!!
ResponderEliminarFiquei petreficada com estas imagens de destruição. Eu conheci toda a beleza que foram estas paisagens de palmeirais; estive lá em 2004 e até ando a escrever as minhas memórias dessa viagem. Infelizmente vou ter de acrescentar que os palmeirais do Cão Grande foram quase todos destruídos. E sabe-se a razão? e se a destruição continua? e não há nenhuma entidade interna ou externa que denuncie esta situação?
ResponderEliminarSinto uma imensa tristeza ao deparar-me com estas imagens. Sim, não posso conter minhas lágrimas ao saber que aquela magnifica paisagem está a ser vandalizada por uma exploração, sem escrúpulos, que não olha a meios para atingir os seus lucros, que, afinal, nem sequer vão reverter para a economia de S. Tomé mas para os cofres usurários de uma empresa mercenária - Eu, que tantas vezes por ali passei a caminho da escalada do Pico Cão Grande, vejo com uma dor de alma profunda, tão criminoso atentado. Espero - desejo ardentemente - que, o Presidente, Manuel Pinto da Costa, bem como governo, não sejam cúmplices de tamanha barbaridade – Jorge Trabulo Marques
ResponderEliminarMuito triste saber desta realidade. Deviam ser tomadas medidas para proteger todos ( humanos, animais e natureza) é verdade que as pessoas precisam de ter meios de se alimentar, ter sustento, salário mas deveriam ser tomadas medidas para não acabar com a biodiversidade unica em São Tomé.
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