segunda-feira, 21 de maio de 2012

Vento no Deserto (Livro)

Deixo hoje aqui uma curta passagem do meu livro:

"Os livros de História já mencionavam a Guerra da Água como a primeira iniciada pela falta de um recurso básico. Todos sabiam que as taxas de importação do GTN tinham sido a causa principal, criando uma pressão económica que os povos Saarianos mais pobres não conseguiram suportar. O que ninguém sabia era quem estava a ganhar a guerra já que diariamente decorriam batalhas sem nome entre rebeldes e o Exército da Coligação Subsaariana. De um lado, desconhecidos armados até aos dentes de coragem, astúcia e conhecimento. Do outro, soldados frios e cegos criados pela Engenom para pilotar ciborgues de última geração construídos pela Biomech e financiados pelo inesgotável Fundo de Defesa e Estabilidade da União Africana.
Durante uma das incontáveis batalhas que ocorriam frequentemente no centro de aldeias desertas, quatro estranhos refugiavam-se no que parecia ter sido um mercado mas agora não era mais que um cemitério de bancadas flutuando num mar de areia. Os homens rezavam de olhos fechados, protegendo a cabeça, abrigados por aí, enquanto lá fora o trovejar furioso dos disparos parecia aproximar-se cada vez mais. Por entre passadas estrondosas ouvia-se o choro de súplicas desesperadas. Cada um pedia apenas para sobreviver mais um dia… só mais um dia… até que parou. Vento, areia e janelas a bater compunham a música do pós-guerra. E parecia que tinha vindo para ficar por isso os homens arriscaram abrir os olhos para espreitar lentamente para fora do esconderijo. “Já parou?” Perguntavam. “Já acabou?”. A única luz que entrava naquele espaço sombrio era a dos finos raios que rasgavam o tecto. O silêncio… Até que tudo explodiu! …O tecto foi arrancado. Eles ficaram cegos com o clarão do Sol. Estavam expostos na rua. Não conseguiam ouvir por causa do zumbido. Mas por entre a poeira distinguiram uma silhueta monstruosa ali com eles. Um gigantesco ciborgue com vinte metros de altura estava de costas e começou a disparar todos os projécteis que tinha no seu arsenal. Bombas, balas, mísseis e granadas voavam num único rugido contínuo de luz e fumo enquanto lasers azuis traçavam o ar e destruíam automaticamente tudo o que vinha na sua direcção. O ciborgue era um Uca, os homens conheciam-nos bem, tinham combatido aquelas criaturas indestrutíveis todos os dias nos últimos meses até não aguentarem mais ver os seus companheiros morrer. O ar à volta da aldeia incendiou-se quando a barragem de mísseis dos rebeldes foi aniquilada pelos lasers e nessa altura o ciborgue colossal recuou e afastou as suas seis patas para ganhar ainda mais estabilidade. Antecipando o que se seguiria, todos correram para o mais longe que conseguiam. O pouco que restava do mercado desapareceu no instante em que o Uca activou o canhão rei. Rasgando o céu num uivo sinistro, o projéctil massivo criou uma explosão tão grande que todas as sombras da aldeia ficaram indecisas entre quem deviam obedecer. Quando o Uca começou a caminhar novamente, deixando para trás um mar de ruínas fumegantes, tudo dava a crer que o vencedor tinha sido decidido, mas foi aí que uma coluna de mísseis desceu dos céus directamente por cima do ciborgue. Sempre que os lasers destruíam um míssil, havia outro que furava a explosão que ele havia deixado e conseguia aproximar-se mais um pouco. Isto continuou até que o sétimo míssil deu o golpe de graça ao sistema automático de defesa do Uca e sem dar tempo para respirar, um bando de mísseis seguiu-o na retaguarda, não era possível contá-los, e a chuva caiu sobre o ciborgue com uma fúria divina. As explosões rugiram em uníssono durante o que pareceu uma eternidade enquanto o chão tremia de medo face ao seu poder.
Brok, Tiel, Volken e Garo estavam refugiados dentro da mesquita quando voltaram a ser tentados pelo silêncio. Pânico e cansaço era o que estava espelhado na cara suja de cada um deles. Respiravam fundo enquanto sentiam a audição regressar. Como animais desprovidos de fala, eles levantaram-se, lentamente, olhando para a cara uns dos outros e sem abrir a boca, caminharam até à porta, olharam com desconfiança para o exterior e saíram para a rua."


Ainda não sei se esta ideia se vai inserir bem no contexto geral da história do livro mas certamente que espero que sim porque adorei escrevê-la e sempre que a relei-o, arrepio-me com a forma como saiu.

4 comentários:

  1. Aqui esta, finalmente :P Muito fixe ;) continua!

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  2. Agora já vamos para África?

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  3. Oh pah, pois... Acho que não vou usar isto logo no início como estava planeado antes. Em vez disso fica assim lá para o meio/final porque se não for assim o leitor nem tem tempo de respirar.

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