Das dez comunidades que seguimos, Santa Jeny parece-me
ser a mais porca. Facto facilmente compreensível se tomarmos em consideração a
quantidade animalesca de porcos soltos que por lá andam. E cães também. E já
agora gatos. Ah, e já disse que também tem patos e galinhas? Estava eu sentado
num tronco tosco a ver uma senhora a varrer toda a porcaria e a pensar que o Zoo provavelmente caga aquilo a uma velocidade maior que a
que ela consegue limpar. E o resultado estava ali à frente dos meus olhos,
e do meu nariz.
Gabriel à espera que cheguem mais pessoas para fazer o inquérito. |
Apesar dessa particularidade, a comunidade
está cheia de pequenas personalidades que se não existissem teriam certamente
que ser inventadas. Pelo bem ou pelo mal. Existe uma senhora velhota que faz
voz grossa para parecer má e está sempre a ameaçar as crianças de morte. “Eu
mato você.” Relembra a senhora, sempre que tem oportunidade. Depois existe um
homem especialmente agressivo e violento que parece estar também sempre
chateado com tudo e todos mas que quando bebe é só amizade e generosidade.
Claro que da última vez que lá estive este mesmo senhor andou a brincar com o
machin para cima do vizinho por isso não sei bem o que pensar dele… Depois há o
Sérgio, sempre com um sorriso contagiante, e o Admin a provocar-me para
confrontos de xadrez, e o Jaime a fazer-se passar por mau e a dizer que lhe
prometi cinco contos para bebermos grogue os dois (o que lá acabou por
acontecer – a maldita coisa sabe mesmo mal). Existe também um rapazinho que está
sempre no mesmo lugar, sempre deitado no chão, sempre torto e infeliz. Ele
nasceu com uma deficiência que não sei nomear mas basicamente é muito magrinho
e as pernas não dobram para onde deviam. Queria fotografá-lo, ou apenas o olhar
dele, como se isso o pudesse fazer voar um pouco para fora daquele chão… mas
nunca tive coragem para isso. Trago-o na minha memória e na vossa imaginação.
Ao jantar houve ambá, ou seja, cada um trouxe o que tinha e comemos todos juntos,
uns por cima dos outros. Maldito peixe fumado absurdamente picante… mas ao
menos a fruta pão até era docinha… quando regressei ao amoque encontrei o
malandro a meter água que nem um barco mal feito. E o chato é que só
reparei nisto quando já estava descalço e bem deitado. “Saio… não saio… não
saio…saio...olha que bonito, recomeçou a chover… saio… sim, saio!” Uns quantos nós molhados
e feitos às cegas depois já estava eu de volta ao meu ninho baloiçante.
De manhã houve mais contagem de passarada por
entre bocejos e também alguma patinagem artística na lama. Acho que ainda está
para nascer quem me vença nessa modalidade.
E depois da passarada vem o mata-bicho onde é preciso
aquecer água para juntar leite em pó. Há qualquer coisa que se perdeu quando
metemos gás em nossas casas mas que de certa forma pode ser recuperado nas
lareiras que alguns têm na sala. Refiro-me ao prazer de acender fogo, de
merecer o calor e a luz que ele nos dá. Soprar e levantar as cinzas todas pelo ar, pequenos
flocos brancos contra o tecto preto e chamuscado, os olhos a arder do fumo e rir por ter acontecido o mesmo à outra pessoa, usar o que estiver à mão para tentar atear nem que seja uma chama, as brasas a
brilhar e a roer a madeira, soprar mais um pouco, um crepitar confortante… e …
sim… mais um pouco, e… está quase...pronto. Fez-se fogo. Na altura disse ao Sérgio que não há
este sentimento de vitória quando se acende o fogão lá de casa mas
provavelmente ele trocaria esse sentimento por um pouco de gás natural em qualquer
dia da semana.
Criançada a ir para a escola |
Ah essa coisa de fazer fogo sei bem o que é! Principalmente quando entrei numa competição com o meu primo em fazer fogo na praia sem ajuda de fósforos e gasolina =P
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