Estava a conduzir pela floresta com alguma antecipação. A minha cabeça estava já em Abade enquanto me desviava das madeiras caídas no caminho e deixava o carro fazer o que queria dentro dos carris escavados na gravilha.
Da primeira vez que vi Abade deparei-me com esta casa e isso consolidou bastante a minha opinião de que Abade devia ser das comunidades mais bonitas de São Tomé.
O chão está limpo, as pessoas sorriem, há árvores com flores e cães que aceitam festas. As crianças brincam com latas de sumol e jogam ao mata com meias enroladas. Perus pavoneiam-se lá ao fundo, as mulheres lavam a roupa e os homens partem para o mato com ganchos e machins pendurados no cinto. Foi neste ambiente que fiz os inquéritos e comecei a espalhar o xadrez pelas cabeças das pessoas que o absorveram com satisfação.
Quando pergunto se a pessoa comeu carne de pato ou peru a resposta costuma ser algo semelhante a: "Ché! Como? Não tem ele." Pois não, mas as pessoas de Abade têm! |
A certa altura vejo alguém puxar de uma tábua de madeira com catorze copinhos escavados e perguntam se sei jogar.
- Nem sequer sei o que isso é, quanto mais jogar.
O jogo chama-se Ouril e só posso dizer que vi, joguei, e depois de várias tentativas só comecei a arranhar o básico porque este jogo requer uma atenção do caraças para o número de pedras que existem em cada copo. Não só foi uma surpresa "descobrir" este jogo como foi uma surpresa descobrir que o Nity é um mestre neste mesmo jogo!
A certa altura aparece um senhor que supostamente era "o mais forte" e depois de se medirem, trocando provocações em forro, as duas forças colidiram.
Ver dois mestres de ouril a jogar é verdadeiramente impressionante porque cada turno acontece em fracções de segundo, eles jogam um por cima do outro, mexem nas pedras, atiram-nas para os copos com uma habilidade incrível (p. ex. atirar três pedras simultaneamente, fazendo-as passar por entre os dedos). Rara é a vez que têm que contar as pedras num copo porque o normal é irem sempre somando e memorizando quantas estão em cada um dos doze copos!
O problema de os ver jogar é que é muito bonito mas não há forma de acompanhar o jogo se não tivermos o mesmo grau de perícia.
O problema de os ver jogar é que é muito bonito mas não há forma de acompanhar o jogo se não tivermos o mesmo grau de perícia.
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