sexta-feira, 20 de abril de 2012

- Bem-vindo Christoph!

 O despertador empurrou-me para fora da cama eram 5h15. Arrastei-me descoordenado e reconheci o bebé da Miriam no meu andar.
 Quando finalmente abri os olhos estava escuro, tinha uma tigela de Chocapic à frente e vinha uma colher na minha direcção. Apaguei-me outra vez e quando recuperei a consciência estava a conduzir pela baía Ana Chaves a uma velocidade responsável dado o meu estado. Hoje era dia de ir buscar o Christoph, o professor que vem cá ajudar com a parte de dispersão de sementes do projecto.

 O Aeroporto Internacional de São Tomé e Príncipe... um rectângulo cinzento inacabado... dantes havia alcatrão à frente mas como agora decidiram construir um toldo à frente do letreiro, transformaram tudo num enorme monte de pedras e buracos.
 Sento-me por aí, está tudo em pé com as expectativas e os nervos. Acho que era suposto estar como eles mas estou com demasiado sono para isso.

 Um ruído assusta os falcões que estavam na pista a apanhar sol. Olho para cima, para lá do Sol e vejo o avião a passar, enorme e branco, como uma nave espacial vinda de outro mundo muito diferente deste.
 A fila de brancos que já estava ali à frente espera fica nervosa e começa a empurrar-se até desaparecer  toda de uma vez.
 Quando o ruído regressa já está tudo agarrado às grades para ver a nave aterrar mas eu continuo a escrever no telemóvel usando uma parte do cérebro que certamente não controlo.

 Lá ao fundo o gang de freiras encosta-se à parede enquanto vê os vendedores atirarem-se com unhas e dentes à ultima oportunidade de vender alguma coisa aos turistas que estão de partida. Trazem cestos de vime, colares de sementes brancas, cinzentas, pretas e vermelhas e ainda bouquets de rosas de porcelana.

 Os troleys de metal são arrastados pelo meio das pedras e buracos, coisinhas tão tortas que até dão pena, as rodas todas lixadas de muitos anos de serviço. Eles bem se queixam, qualquer um consegue ouvir a barulheira, mas acho que só eu é que me importo.

 Mais pessoas vão chegando e subitamente reparo que ninguém está a fumar. Deve ser do leve-leve... mas ah! Falei cedo demais... está ali um tipo mascarado de Zezé Camarinha a fumar.
 Acho que vir buscar pessoas ao aeroporto é a melhor forma de sentir que já cá estou há bastante tempo. Os outros vão, mas eu fico. Olha! Já há pessoal a sair pela porta das Chegadas... toca de levantar, sacudir o pó e as formigas e ir guardar lugar na fila.

 ...Enquanto estou aqui em pé a apreciar o ar confuso e inseguro dos brancos relembro o dia em que eu e a Ana passámos por aquelas mesmas portas. Tantos olhos, o calor, os cheiros... olha! Aí vem ele!

 - Oi! Sim! Bem-vindo!

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