quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sol e simplicidade

 Acordei sobressaltado, a chuva batia forte nas portadas fechadas da janela e o telemóvel esqueceu-se que  me devia ter acordado há uma hora atrás. Hoje era dia de campo... telefono ao Gabriel e pela gritaria percebo que na zona dele (onde iam ser as contagens) está bem pior por causa do vento... "ok, paciência, isto tem dias assim."
 A ideia que fez nascer o post de hoje é simples. E por isso espero conseguir colocá-la simplesmente assim:

 Há um ano atrás estava eu no deserto do Sinai a fazer trabalho de campo e num dia gélido e seco como os outros o Huarib (um beduíno que me ajudava) convidou-me para almoçar com ele e a família. Isto não foi nada de mais, já tinha acontecido antes. Mas o que me marcou profundamente foi quando nos sentámos lá fora em frente à casa dele. Não havia bancos nem cadeiras, apenas pedras frias e ásperas, mas num pequeno cantinho mais acolhedor o Sol decidiu abençoar-nos com calor que, apesar das aparências, era raro e precioso naquela altura do ano. A mulher sentou-se connosco e os filhos também. Os mais pequenos brincavam com pedras e bocados de lixo enquanto o Huarib e a mulher falavam e riam abertamente enquanto o Sol nos aquecia a cara. Eu só pude fechar os olhos e sorrir humildemente perante aquela lição. Foi simplesmente isso.
 "Esta gente não tem nada." Pensei eu. "Não têm carro, a casa é um monte de pedras, dormem no chão, estamos todos a comer da mesma tijela torta com colheres tortas que mal devem ter sido lavadas porque a água é tão escassa, mas olha para eles, bastou um pouco de sol para ficarem felizes..."
 A mensagem era esta, espero que tenham conseguido sentir pelo menos parte do que eu queria transmitir e se conseguirem fazer algum tipo de comparação com as vossas vidas, tanto melhor, porque eu certamente que fiz.



 Já agora, se tiverem tempo e curiosidade vejam este blog de um casal de Portugueses que eu tive a honra de conhecer no Sinai: http://www.2numundo.com/
 Resumindo ao máximo a sua aventura épica, eles estão a viajar de bicicleta desde Portugal até Macau. É isso mesmo. Espero que a história deles possa inspirar alguns de vocês a fazer o mesmo.

2 comentários:

  1. É por isso mesmo que abordaste neste post que cada x mais o turismo de voluntariado para África e Ásia está a crescer :) Umas férias turísticas não dão metade do que se ganha em ires para nenhures e ajudares uma ONG local, enquanto contactas com a realidade. A simplicidade, humildade e a felicidade de quem nada (ou será espiritualmente muito?) tem dá-nos mais que simples recordações num destino turistico! Abre-nos os olhos do nosso adormecimento fruto da nossa vida citadina, stressante e tb por x luxuriosa ou rodeado de princípios e valores que não são os mais importantes! Faz-nos confrontar com a sorte de muita coisa - material e humana (como a familia) que temos como adquirido e que consequentemente mal valorizamos. O crescimento pessoal resultante de experiencias destas perdura e faz-nos VIVER :) A tua profissão permite-te experienciar isso e é optimo! Aparte disso, deduzo que estar a sós na imensidao da natureza tb te faz pensar sobre muita coisa nao :P ? Uma das coisas que gosto de cuidar de pessoas é que faz-me pensar passar por experiencias incriveis - boas e más, fáceis e dificeis- contrinuindo para ajudar o Outro e faz-me pensar tb no que há a valorizar na vida ;)
    Gostei mto tb do blog sugerido e vou lê-lo todo com tempo! partilho este: http://125asul.blogspot.pt/

    Foi de um primo meu mto aventureiro também e da sua maior viagem de Backpacking,tem estórias muito boas. Abraço!

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  2. Bem! Muita sabedoria que vai para aí! ;)
    Sim, acho que se cada um de nós tivesse o tempo, o dinheiro e a vontade (talvez apenas este ultimo) para sair para a rua e passar uns dias com alguém que não tem nada, as nossas prioridades seriam certamente reformuladas um pouco!

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